Como essa relação pode auxiliar no equilíbrio mental da população e a relevância de investimentos para aumentar a quantidade de áreas verdes nas cidades.
De acordo com dados do relatório do banco Goldman Sachs, publicado na página Natureza do G1, sobre o tema de adaptação das cidades às mudanças climáticas, 4,2 bilhões de pessoas, ou 55% da população mundial, vive nos grandes centros urbanos. A ONU – Organização das Nações Unidas, prevê que o índice chegue a 68% até 2050. Números que reforçam uma preocupação recorrente no mundo atual: o caos urbano, provocado pela grande concentração de pessoas e pela ocupação desordenada dos espaços naturais, agravado pela falta de infraestrutura e planejamento. O resultado são cidades mais quentes, poluídas, com menos espaços verdes e com mais cidadãos tensos, infelizes e suscetíveis às mais variadas doenças que colocam em risco o direito humano à saúde.
Revitalização de espaços
Para os especialistas ouvidos pelo Bem Viver Em Minas, a relação entre o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas com a preservação ambiental é mais intensa e próxima do que se imagina. E mesmo nas grandes cidades é possível adotar hábitos de cuidados com o meio ambiente e aumentar a conexão com o verde. “Temos exemplos de cidades, inclusive no Brasil, como no caso de Curitiba, que conseguiram trazer alternativas e promoveram mudanças que mostram um caminho a ser seguido no sentido de organizar os espaços públicos. Em Belo Horizonte podemos citar o programa Adote o Verde, onde o setor privado ajuda na manutenção dos espaços públicos”, lembra Rafael Tello, diretor de sustentabilidade do Grupo Ambipar e coordenador da Rede Desafio 2030. Rafael também cita exemplos de cidades no exterior que estão conseguindo reverter os efeitos da desorganização urbana por meio de projetos de revitalização dos espaços públicos. “Nova Iorque converteu linhas de metrô, que eram suspensas, em um parque linear que virou ponto turístico. Seul, na Coréia, também investiu na revitalização de espaços público. Por aqui, na América do Sul, temos os casos de Bogotá e Medelin na Colômbia, que investiram na ideia de direito do espaço do cidadão. Se pensarmos dessa forma, conseguiremos avaliar melhor se estamos orientando nossas cidades para as gerações futuras e para as pessoas que moram longe, que necessitam fazer grandes deslocamentos e que por isso dependem mais da organização do espaço urbano”.
Bike friendly
Para o outro especialista ouvido pelo Bem Viver Em Minas, o Dr. Frederico Peret, diretor-presidente eleito da Unimed-BH que assume em maio de 2022, do ponto de vista clínico é importante não só criar mais espaços verdes nas grandes cidades, mas é preciso também associá-los à prática de atividades físicas. “Precisamos customizar esses espaços para que eles sejam incentivadores para que as pessoas se movimentem mais. Cito como exemplo a cidade de Portland, nos Estados Unidos, que hoje, no mundo, é a cidade mais “bike friendly”, ou seja, um lugar onde as pessoas aderiram à bicicleta como transporte de baixa emissão de carbono e energia renovável. Tudo isso com a natureza em volta, integrada ao espaço urbano. Por aqui, na operadora, estamos trabalhando nesse sentido: adotamos o projeto Bike BH que, por enquanto, está na lagoa da Pampulha e acho que poderemos crescer mais ao longo do tempo. E é muito bacana a gente poder trazer isto para as pessoas do ponto de vista da saúde integral”. Para o especialista, estes são exemplos de como o contato com a natureza, mesmo em meio ao caos urbano, pode interferir positivamente na nossa saúde e trazer um pouco de paz e harmonia para as pessoas.
Trabalhar conexões
Para os especialistas, tão importante quanto investimentos públicos e privados para manter áreas verdes nas cidades no sentido de evitar o desequilíbrio ambiental e contribuir com a saúde e a qualidade de vida coletiva, é que as pessoas levem para dentro de suas casas e apartamentos hábitos que traduzem um estilo de vida mais sustentável. “Ter plantas em casa, por exemplo, ajuda a limpar o ar. Os mais exotéricos acreditam que elas contribuem também para manter a energia da casa”, acrescenta Rafael Tello. Porém, o especialista acredita que as pessoas podem ir além disso quando se pensa no bem-estar dentro de casa. “Precisamos trabalhar as conexões: ter um espaço para atividade física, tomar cuidado com os resíduos que a gente gera e até mesmo rever a forma que a gente convive em comunidade, sermos mais gentis e cordiais com os nossos vizinhos, por exemplo. Tudo isso são formas de trazer o contato e os cuidados com a natureza para dentro de nossas casas e ainda fortalecer relações mais sustentáveis no nosso dia a dia”.
Fonte: G1 – 04/04/2022.